sexta-feira, 4 de março de 2016

Porque antes já recebemos


Estamos inseridos numa cultura na qual ganhamos a partir daquilo que oferecemos, seja em dinheiro, seja em agrados, “é dando que se recebe”. Conquistamos as pessoas com o que lhe entregamos de nós, e então recebemos, numa espécie de troca. Vivemos com intensidade as culturas de nossos meios sociais e parece que esquecemos que as regras que regem o mundo espiritual são diferentes.
Muitos têm deixado de ver os dízimos como uma devolução em gratidão daquilo que recebemos, e acham que é um argumento para o momento no qual queiramos cobrar uma dívida de Deus conosco, acreditando, erroneamente, que Deus nos deve algo, e que alguma coisa que vem dele possa ser comprado. Oferecendo canções pensando agradar a Deus, para receber dEle bênçãos. Quem sabe distorcendo as práticas da vida cristã para adaptar à sua vontade, ou talvez apenas vitimados de más interpretações.
O livramento a Paulo e Silas na prisão, por exemplo, servindo de argumento para mostrar que se louvarmos seremos atendidos. Paulo e Silas não cantaram a Deus como uma senha para que a cadeia se abrisse, eles estavam dispostos a permanecer ali se fosse a vontade de Deus, eles louvaram porque decidiram confiar em Deus, mesmo quando a situação lhes parecia pouco favorável. Eles louvaram em gratidão por tudo o que Deus já havia feito na vida deles, porque se tudo acabasse ali para eles, receber a salvação teria bastado, porque ser presos por causa do evangelho de Cristo já era em si recompensador, porque “Bem aventurados os que sofrerem perseguições por fazerem a vontade de Deus”.
No livro de Salmos, no capítulo 59, Davi relata a zombaria e ameaça que vinha sofrendo de seus inimigos, ele encerra o capítulo louvando ao Senhor, e ele diz: “Mas eu cantarei louvores à tua força, de manhã louvarei a tua fidelidade; pois tu és o meu alto refúgio, abrigo seguro nos tempos difíceis.” O louvor de Davi não é porque Deus o livrará, mas Pois Tu és o meu refúgio, não porque se louvarmos moveremos os céus e Deus virá até nós, e será nosso refugio e abrigo, mas porque Ele é. O louvor a Deus deve ser em gratidão, uma entrega de si, não na espera de algo.

A adoração é um momento de devolução, devolver com o que temos de melhor, daquilo que já recebemos. É entregar nossa vida em louvor a Deus porque temos uma vida, e foi Ele quem a deu. É agradecer, é retribuir um pouco do muito que recebemos diariamente, abundantemente, insistentemente.

Não há troca no reino de Deus. Podemos sim orar, clamar por algo de Deus, uma cura, uma bênção. Mas não se estabelece como um comércio, não podemos lhe oferecer louvor a fim de receber bênçãos. A adoração é a nossa escolha em ser grato, e louvar a Deus levando essa gratidão ao seu trono.

Na biblia tem exemplo de pessoas que entregaram algo de si a Deus sem sinceridade, e essas pessoas foram castigadas. A vida com Deus não é a simples obediência de regras, não é para seguirmos um manual e o agradaremos. Deus quer um relacionamento com o seu povo, uma relação afetiva, e ela se estabelece com amor, confiança, sinceridade. Não é apenas ofertar algo a Deus, o mais importante é que a própria vida seja ofertada, e assim haverá verdade em cada adoração posterior.

Na história da igreja primitiva vemos o relato de pessoas que vendiam suas propriedades em favor do reino, elas abriam mão de seu conforto para cooperar com a proclamação do reino de Deus, Deus não lhes pediu isso, mas eles decidiram adorá-lo também dessas maneira. Um casal decidiu também vender, mas pensaram ser possível negociar com Deus, sua oferta não foi uma adoração, mas uma compra mal sucedida. Deus sonda o nosso coração, Ele conhece as nossas intenções, Ele sabe quando há sinceridade.

A história de caim é um outro exemplo de uma oferta que foi simplesmente uma oferta, que não chegou ao trono de Deus como uma adoração de cheiro suave. Eu não sei o que faltou a caim, ou o que ele tencionava, mas seu sacrifício não agradou ao Senhor. Adorar não é fazer o que os outros crentes estão fazendo, não é ir pra igreja, cantar os louvores, levantar as mãos, ofertar e dizimar. Isso pode ser apenas uma rotina. A adoração é mais profunda. Ela é um relacionamento, ela é estabelecida pela confiança e gratidão a Deus, simplesmente porque acordamos hoje, porque o sol está brilhando lá fora, ou pela chuva que cai, porque temos uma família, amigos, emprego, ou até mesmo se não temos, mas confiamos na misericórdia de Deus.

Adorar a Deus é honrá-lo também, é exaltá-lo, entronizá-lo. É reconhecer quem Deus é, e sua glória e majestade, e o pôr em seu lugar, colocá-lo no centro de nossas vidas, no trono de nosso coração. 

Nada começa em nós, mas em Deus. Se o amamos, é porque Ele nos amou primeiro (1 João 4:19). E assim deve ser o nosso louvor, e se ele vier a nós com bênçãos, que o louvemos mais uma vez, entregando-lhe ainda mais gratidão.

Ariane Machado

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