Somos feitura das poderosas mãos de Deus. Criados a partir do barro. Chegando ao final da criação, Deus pôs seus pés na terra, pôs as mãos no pó, com elas moldou a primeira vida humana, tal qual um oleiro molda o barro para fabricar seus vasos. A partir do pó da terra o fez, à sua imagem e semelhança. E da mesma matéria somos cada um de nós.
Não como cada uma outra de suas criações, não pelo som de sua voz, mas pelo toque de suas mãos. Na criação do homem não houve um “haja”, mas em seu lugar ouviu-se “façamos”. Não é fruto da palavra, mas da ação de Deus. Como um oleiro fez sua obra prima, sujando de barro as suas mãos, o moldou conforme o seu querer, conforme a sua imagem, conforme o seu caráter.
Mas a obra perfeita, a coroa da criação foi tocada, ela já não segue o molde de Deus. Destruídas pelo pecado, e voltando a pecar cada dia mais. A imagem de Cristo gravada na criação já não é vista tão fácil, nós mesmos por vezes não nos conhecemos assim. Os seres que deveriam revelar a natureza de Deus, tem se mostrado muitas vezes incapaz de se parecer com Ele. De revelar em suas atitudes o amor que Ele tem, de revelar o seu perdão, sua paciência, sua doçura, sua mansidão. A criatura já não se parece com seu Criador, e o que podemos fazer? O barro não corrige a si mesmo.
Às vezes, as pessoas retardam seu encontro com Cristo argumentando que precisam mudar, deixar a vida que levam pra então buscar Jesus. Mas em nós mesmo não há a mudança necessária para estar em Cristo e com Cristo. Somos incapazes disso. Não de mudar, mas de voltarmos a perfeição que Deus criou, e de ser, de alguma forma, dignos de ir à presença de Deus.
E diante dessa nossa limitação, Deus apresenta mais uma faceta de quem Ele é. Em Jeremias 18, Deus leva o profeta para ver o trabalho de um oleiro, e lhe diz que como o oleiro faz com o barro, ele pode fazer com o povo de Israel. E somos hoje o seu povo, e quem se achegar a Ele será parte do povo Dele. E a esse povo Ele pode restaurar. Com essa palavra dada a nós através de Jeremias, Deus quer estabelecer conosco uma relação de Oleiro e Vaso.
Nós, vasos, perdemos a aparência do molde que nos fez. Perdemos as características que nos foi dada na criação. Mas Deus pode nos refazer. Ele não desiste de nós por termos sido marcados pelo mundo, porque Ele nos ama. Ele é um Deus que tem em sua essência o amor. Ele é o próprio amor. E desde que Ele pôs suas mãos no barro para fazer o primeiro de nós, Ele tem um amor sem medidas para conosco.
Diante da relação Oleiro-Vaso, Deus nos mostra que Ele não nos castiga ou abandona por termos nos perdido na caminhada. Mas seu desejo é nos restaurar. Não apenas nos perdoar e salvar, mas fazer de nós novas criaturas. Quebrar o vaso imperfeito que somos e refazer-nos.
É um processo que pode ser muito doloroso, mas que com Deus podemos alcançar. Se tentarmos por nós mesmos mudar, na verdade nem saberemos onde chegar, sem ter Deus como modelo. Mas Ele quer fazer de nós novamente sua imagem. Ele quer forjar em nós o seu caráter. Foi gravado em nossa modelagem as características de Deus, e ele deseja que realmente o mostremos ao mundo.
O vaso perfeito criado no sexto dia da criação foi retorcido, perdeu o formato que o oleiro desenhou, e Ele nos quer restaurar. Mas existem pessoas apegadas demais a suas novas formas. Pessoas que até estão na igreja, que têm uma rotina de cultos e outros trabalhos da igreja, mas que não carregam a imagem de Deus. Carregam a imagem que lhe foi gravada na medida que os anos passaram, depois das magoas, das decepções, dos pecados, marcas que nos afastam da aparência de Cristo, mas marcas às quais muitas vezes temos nos apegado.
Para a restauração do vaso, o Oleiro precisa quebrá-lo, destruir o modelo imperfeito, para começar de novo. E precisamos estar dispostos a ser quebrados. Depois de tudo o que passamos e vivemos, parece impossível que sejamos amor em meio à tanta raiva, parece impossível que sejamos mansos diante de tanta grosseria, pacificadores em meio tantos conflitos, que desacreditamos que podemos realmente ter o caráter de Deus, então preferimos o conforto do que eu já conheço de mim, mesmo que tão diferente de Deus.
Mas Deus quer produzir mudança em nós, e essa mudança é real. Ele pode nos fazer outros. Novas criaturas que carregam consigo as características de Deus. Novas criaturas que são capazes de ser bons em meio a tanta maldade. Novas criaturas que conseguem viver o amor, e ser luz e sal da terra.
E se seguimos a Cristo, precisamos estar dispostos a andar na contra mão, a ser o que o mundo não tem sido, e que o mundo não espera de nós. Precisamos ser semelhantes ao nosso mestre, refeitos pelo oleiro. Com sua inexplicável graça, Deus nos aceita da forma que estamos, sujos e quebrados, e gera em nós a mudança.
Ariane Machado
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