segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

E de saudade quer voltar

Supondo que Deus lhes perguntasse porque devem ir para o céu, o que responderiam? Não adiantam argumentos bem articulados se não são do coração, afinal Ele os conhece. Então, o que seria? “Porque entre o céu e o inferno o céu é melhor”, “Porque me esforço em todos esses anos para merecer o céu”, “Porque tenho medo do inferno”, “Porque no inferno haverá dor, e não quero isso”... Se Deus lhes desse a chance de argumentar, seus argumentos seriam suficientes para vos levarem à morada do Pai?

Talvez pensemos muito e ansiemos pelo céu, mas ele realmente não tem sido o assunto em nossas rodas de amigos, nem mesmo no papo pós-culto, também não é tão discutido na escola bíblica dominical, e nem mesmo em nossos púlpitos. E por essa razão Marcela Tais pergunta “Por que pararam de falar do céu?”. E então, por que paramos?

A frase seguinte à essa pergunta é o que creio ser sua resposta, “estamos pensando muito nessa vida daqui”. Alguém disse certa vez que não somos um corpo com uma alma, mas uma alma com um corpo. Nossa carne realmente é terrena e passageira, mas nossa alma vive para a eternidade e ela não é daqui. Recentemente falei sobre a consciência de estrangeirismo por parte dos nossos heróis da fé em Hebreus 11: “A importância de nos declararmos estrangeiros, é que temos consciência de que não somos daqui, por aqui apenas passamos e, portanto, as coisas daqui não nos aprisionam, mas nos importa viver pela fé. ”

Nossa alma tem estado longe de casa. Os nossos anseios espirituais podem ser ofuscados por nossa vida de pecado, por isso muitos vivem sempre com um vazio que tentam, inutilmente, preencher com prazeres mundanos, mas não conseguem entender o íntimo clamor que se tem por Jesus. Da mesma forma acontece com a nossa necessidade de ir para a pátria celestial.

Quanto mais nos envolvemos com o pecado, mais nos habituamos às limitações e imperfeições da carne, e essa familiarização nos leva a calar o clamor do nosso espírito pelo encontro face-a-face com Deus.

Marcela fala que se tivesse asas voaria e deixaria tudo para trás, porque ainda que não tenha visto nada ainda do céu, seu espírito tem saudades de sua pátria. E nós, se tivéssemos a oportunidade de irmos logo hoje, largaríamos tudo? Ou quem sabe, pediríamos para ir na viagem em que Jesus virá nos buscar? Desconsiderando quem talvez acha que a vida tem andado ruim e quer se livrar logo dela. Estamos dispostos a abrir mão do que quer que seja porque estar com Deus, estar no céu, é mais importante do que tudo e é o nosso maior anseio? Ou já temos recebido o título de cidadãos terrestres e, satisfeitos, temos dificuldade de “voar, tudo pra trás deixar”?

Temos nos acomodado ao conforto desse mundo de ansiedade, pecado e dores. O mundo na verdade não é de todo mal, aqui há maravilhas de Deus, e há prazeres que nos foi concedido por Ele, seja nossa comida preferida, uma boa música, ou um ótimo e divertido final de semana, mas tudo isso é passageiro, e isso não deve ser esquecido. Apesar dos prazeres daqui, o que há de vir nunca foi visto, ouvido e nem mesmo imaginado por nenhum de nós e, portanto, é superior a qualquer coisa que já experimentamos (I Coríntios 2:9). Não podemos viver como se esta vida fosse o que mais nos importa, mas devemos ter em nós o desejo pela eternidade.

Na carta aos Filipenses, Paulo discorre sobre o nosso direcionamento ao alvo, alvo esse que é a eternidade com Deus, a pátria celestial, para a qual fomos alcançados em Cristo (Filipenses 3:12 -21). Nossa alma não foi criada para esse mundo em caos, mas para o paraíso, esse foi o plano de Deus para nós desde o início, e por isso, não devemos nos conformar com esse mundo, mas buscarmos a santificação, para calarmos o mundo a nossa volta, e ouvir o anseio de nossa alma em habitar nos céus com o nosso Salvador.

Não digo que já não queremos o céu, todos querem o céu, mas o que nos motiva a esse desejo? Talvez temos visto o céu como uma consequência de uma vida de sábias escolhas e boas atitudes, mas consequências nunca são o foco, e o céu não é isso. Na verdade, é a conclusão do plano da salvação, é o nosso lar, é uma vida plena com Deus, o céu é o nosso alvo, e se ele não tem sido isso, não faz sentido.

Isso não é sobre merecimento, afinal, independente do que façamos ou do quanto nos esforcemos, nunca chegaremos a merecer tamanha graça, mas falo do anseio. O que tem nos movido a trilhar esse caminho de renúncias é o anseio de alcançar a eternidade e estar com Cristo? Se sim, creio que estamos no caminho certo. Senão, está na hora de calar nossa carnalidade, e perceber a saudade que aflige a nossa alma, e o desejo de viver na presença e em louvor ao nosso Pai no lar celestial. 




Ariane Machado

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