Certamente estamos cansados de ouvir sobre a ironia que é o tanto que este século está globalizado e conectado e o tanto que estamos distantes. Mas espero possibilitar uma nova fresta por onde olhar para esse escancarado problema.
Muito mais do que por passarmos tempo demais com o grupo do celular do que com o velho grupo de amigos face-a-face, o problema está em passarmos tanto tempo com tudo que está ao nosso alcance graças a tecnologia, que esquecemos do que temos sem nada. Do que temos ao deitar na cama, quando as luzes se apagam e cada um dos amigos virtuais se calam. O silêncio se instala e logo percebemos um outro personagem. Mas não temos tempo para ouvi-lo, saber suas necessidades, seus clamores. Se ouvimos, ignoramos, lembrando que o mundo tem muito mais exigências, que se ignoradas chovem sobre nós acusações. A verdade é que temos medo de conviver com a nossa solidão e por isso passamos tanto tempo procurando pessoas online para interagir e mesmo quando não há nada para fazer estamos rolando o nosso feed porque precisamos estar conectados e a ordem é não se sentir sozinho.
E não necessariamente há um erro em querermos estar próximos de outras pessoas, ainda que virtualmente, mas o fato é que para nos adequarmos a todos, e ficarmos dentro dos padrões das redes esquecemos de nós e ainda mais de Deus. E já nem lutamos para satisfazer-nos, mas para satisfazer aos nossos grupos, à família, e ao bando de desconhecidos que nos acompanham em cada rede social. Diminuindo nossas paixões a nada, nossas necessidades, nossas loucuras.
O maior causador de estarmos tão distantes uns dos outros é por estarmos distantes de nós mesmos. Tão preocupados em seguir o que o mundo dita, seja no cabelo, na cor do cabelo, no corte do cabelo, o tamanho do cabelo, o que usa no cabelo, o tamanho da cintura, o tamanho do salto, o tamanho do short, a hora que sai, a hora que chega, para onde vai, com quem vai, e tanto mais que tem sido vivido pensando no que vão falar, se vão reparar, se vai agradar. Que até mesmo quando surgem novas vertentes de comportamento, um padrão que é só seu, logo vira de todos, porque se eu costumava viver esperando agradar e receber um elogio, agora quero incomodar, sendo diferente, e olha lá!, está todo mundo igual de novo, só que igual de outro jeito. E nessa correria para saber o que nos é ditado, esquecemos de ditar para nós mesmos a nossa vontade.
Ora mais que contradição, o que uma crente, acostumada a pregar a vontade de Deus está falando sobre fazermos a nossa própria vontade? Talvez esteja se perguntando. Ora, se foi o próprio Deus quem nos fez diferentes, nos deu temperamentos diferentes, gostos diferentes, vontades diferentes, emoções e reações diferentes para cada coisa, porque manter meu pensamento engessado nos moldes da sociedade numa falsa liberdade?
Se fosse intuito de Deus fazer-nos seguir iguais, ele nos faria iguais, obedientes robôs. Resolveríamos os problemas da humanidade, iríamos todos para o céu e tchau, boa noite.
Mas não, ele ama ver a sua criatividade em ação, inventar um penteado novo, usar as combinações mais improváveis para as suas roupas, criar soluções ousadas para os problemas, ele mesmo não é assim? Criador, criativo, pintor, autor magnifico de todas as coisas. Foi ousado para escolher as cores do pôr do sol e testa uma nova tela a cada dia, deu um som diferente para cada ave, e você realmente espera que Ele não espere nada de nós além de imitações baratas uns dos outros?
Imagem e semelhança dele, não para sermos todos iguais, moldados na mesma forma manchada e limitada, NÃO! Semelhantes a ele na ousadia de ir além. Igual a ele em decidir ser compositor do canto dos pássaros quando muitos esperariam a figura de um monarca ditador.
Em vez de viver à sombra da criatividade do outro, ou reprimido pelo olhar dos que oprimem suas próprias criações. Substituindo a pressão das cobranças que te atormentam noite e dia, seja livre em Deus.
Afastemo-nos das imposições opressoras do mundo, afastemo-nos da aparência do mundo, e caminhemos em liberdade com Cristo, à sua imagem.
Não estou pregando, ou insinuando que há liberdade para tudo, mas há liberdade para tudo em Deus.
Quando alguém decide gritar sua liberdade ao mundo geralmente confunde liberdade com rebeldia, e daí querem ir contra tudo e todos, e sua liberdade se esvai ao se ver preso a tantas coisas. Mas quero convidar-nos, sim, a mim também, a experimentarmos da liberdade em Deus. Uma liberdade combinada à sabedoria, sabendo sabiamente o que escolher.
Se Deus, em sua infinita sabedoria fez-nos criativos, diferentes, e sábios, porquê nos reprimir em prol do outro? Não tenha medo de passar um tempo com o som do seu silêncio, pense sobre as suas necessidades, ame o que você tem e tudo que você é. Acredite: não precisa da aprovação dos outros para tudo, antes de manter um perfil impecável, mantenha-se bem consigo mesmo, seja você. E se houver dificuldades nisso, não hesite em conversar com alguém, lembre-se que falar é sempre a melhor solução, não é besteira, procure ajuda. Ainda que não saiba existe muita gente torcendo por você!
Ariane Machado e Jéssica Vieira
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