“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem” (Hebreu 11:1), ela certamente é um dos pilares de nossa vida cristã, somos por vezes chamados de pessoas de fé. Mas nossa fé tem sido realmente firme? E ela existe mesmo quando não vemos nada onde a apoiarmos? Certa vez ouvi que escolhemos servir a Deus mesmo sem provas científicas de sua existência por causa desta palavrinha, a fé. E se não tivessem incertezas e dúvidas ela não se faria necessária na vida com Deus. Mas e após a conversão? Mais do que crer na existência de Deus, precisamos crer em suas promessas. Crer que Ele está conosco, que Ele nos suporta e que podemos confiar, mesmo em meio a tantas aflições do dia-a-dia da vida com Ele.
No livro Decepcionado com Deus do escritor Philip Yancey, ele destaca a existência de dois tipos de fé. A fé da fidelidade e a fé ingênua. Eu tenho uma preocupação com músicas que insistem na cura, na resposta, no socorro, no sobrenatural de Deus, não que eu não creia nessas coisas, na verdade creio sim, e em muito mais. Mas pertuba-me pensar que essas letras estejam cultivando cristãos que acreditam que esse agir de Deus é uma regra. Pessoas que acreditam firmemente que basta que peçamos algo a Deus e Ele nos dará, que muito provavelmente como filhos de Deus o mal não virá sobre nós, mas se vier, com um clamor, ou um louvor, a tempestade se dissolverá.
Quero deixar claro que Deus cura sim, Deus liberta sim, Deus responde sim, mas sei que, às vezes, as respostas são negativas, ou ainda mais distantes do que a ingenuidade de alguns espera, às vezes, há silêncio. E estar em meio ao silêncio de Deus não significa que você é menos crente do que aquele que recebeu uma resposta. Jó não só não foi menos crente que seus amigos, como foi participante de um teste entre Deus e o Diabo. Jó era temente, obediente, fiel a Deus, e sua fé também foi fiel. Ele foi testado de forma tremenda, mas por muito tempo, tudo o que Jó encontrou em Deus foi silêncio. Nenhuma fala mansa, nenhum trovão, nenhum sinal, Jó poderia até mesmo dizer que foi abandonado por Deus, mas ele tinha fé.
E quanto a nós? Quando o céu se cala, quando a cura não vem, as respostas não são ouvidas, há fidelidade em nós? Ou nos tornamos revoltosos, decepcionados, irados com Deus por seu silêncio? Talvez estejamos sendo e gerando crentes que se apoiam apenas em vistas, que crêem apenas em meio as respostas. Pessoas de fé imatura e preguiçosa, que está presa ao que está ao alcance e se vê. Penso no que seria a igreja no Brasil se tivéssemos proibições e mais proibições, perseguições e mais perseguições a quem carrega o nome de Cristo, quantos mais levariam esse nome se não víssemos a liberdade tão de perto, se tudo a nossa volta parecesse contrária a nossa fé.
Quando nada em nossa volta evidencia a presença de Deus, as circunstâncias não são nada favoráveis à fé, tudo está escuro, nem uma fagulha de luz, nenhum sinal da mão divina, nenhum consolo, nenhuma resposta, quando o silêncio é tudo o que vem de Deus, o que vem de nós ainda assim deve ser a fé. A nossa fé não deve ser baseada em evidências. Na verdade deve se aprofundar e crescer à medida em que as respostas não são ouvidas. Nas situações em que nossa fé é provada, precisamos confiar ainda mais em Deus, crer ainda mais em Deus, nos firmar ainda mais em Deus.
“Bem aventurados os que não viram e creram” (João 20:29b). Feliz os que não viram e creram. Bem aventurado cada um de nós que não vimos Jesus em forma humana, que não tocamos em suas feridas de cruz e ainda assim cremos. Feliz também dos que permanecem nele sem ver evidências de sua presença e de sua força, de seu consolo e conforto. Feliz serão estes que resistirem frente a dor, diante da prisão, em meio ao que nos parece abandono. O próprio Cristo sentiu-se assim, foi de sua boca que se ouviu “Pai, porque me abandonaste?”, mas mesmo naquele momento ele sabia que o socorro viria, a Ele demoraram três dias para que o socorro retornasse, e a glória de Deus fosse novamente vista. A glória a Jó também foi devolvida, junto com sua família. Somente precisamos resistir e continuar a crer, passando por cima de toda mostra do contrário .
Ser fiel e continuar a confiar em Deus nos fará crescer nEle. O rabino Abraham Heschel afirmou “Uma fé como a de Jó não pode ser sacudida porque é o resultado de ter sido sacudida”, porém uma fé que vive num mar de rosas, em conformidade plena com a sua própria vontade e necessidades sente-se traído, abandonado frente ao silêncio de Deus e deixa-se levar pelos questionamentos que surgirão. Há períodos sim, em que somos mimados por Deus, mas precisamos estar firmes diante da névoa que nos impedirá, em alguns momentos, de ver e ouvir a resposta de Deus. Precisamos resistir a essas sacudidas, por mais fortes que sejam, e crescer nestes momentos.
Falo sobre a necessidade de termos uma fé firme e fiel em Deus, não como uma condição para a salvação, mas para o crescimento em nossa caminhada com Cristo, nos alicerçando nEle para resistir às intempéries da vida, para continuar firmes até que Ele venha. Mas independente do quão forte é nossa fé, e quanto de dificuldade ela já tenha enfrentado, o importante mesmo é que depositemos-na em Jesus, crendo que Ele é o nosso Salvador, nosso Redentor e nosso Tudo. E que dediquemos nossas vidas para o servir e o adorar.
Encerro com essa pergunta que nos fez Jesus, “Mas, quando o Filho do Homem vier, será que vai encontrar fé na terra?” (Lucas 18:8b). Esforcemo-nos, mesmo em meio às sacudidas da vida, para que no fim, tenhamos persistido, e em nós se ache fé, amor e esperança.
Ariane Machado
Muito bom o texto Ariane, saiba que Deus falou comigo através Dele ! Não pare, continue
ResponderExcluirE GUARDE a Fé !
Samuel Dativo