segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

De volta a uma vida sem muros

Nosso coração foi criado em perfeita harmonia com o coração de Deus e sua vontade. Adão e Eva eram completamente entregues a Deus em amor e confiança, amizade e devoção. As criaturas andavam lado a lado com o Criador, e com Ele tinham intimidade. O coração do homem alegrava o coração de Deus, com quem vivia plenamente.

Mas o homem pecou e conheceu a vergonha. O homem caído passou a ter dificuldade em descansar em Deus, porque se entregar a Ele revelaria suas fraquezas e erros. O coração afastado da vontade do Pai, agora tem reservas com o seu Criador. Prefere confiar em si mesmo, se arriscar em suas limitações e falhas, metendo os pés pelas mãos enquanto nos afastamos ainda mais de Deus e criamos mais barreiras, uma muralha, em nossa relação com Ele.

Nossos erros nos mostram insistentemente que sozinhos é impossível seguir. Angustiados voltamos ao Mestre. Porém há vergonha, medo, desconhecimento de Deus, pecados e tantas coisas que insistem em prejudicar uma entrega perfeita. A confiança foi perdida.

Conhecemos e cremos num Deus que enviou pragas a uma nação para libertar o seu povo, cremos no Deus que por vezes livrou seu povo de seu próprio castigo, revelando seu imenso amor e misericórdia. O Deus que prosperou Jó, e depois de Ele perder tudo, devolveu-lhe em dobro. Acreditamos no Deus que acalma tempestades, que faz estéril mãe de filhos e velho torna pai, no Deus que faz o exército do seu povo vencer batalhas contra exércitos muito maiores. Cremos e servimos a esse Deus, Deus de poder e de milagres.

Mas apesar de toda a fé que temos, não conseguimos reconstruir a confiança e entrega de Adão. Temos vivido dias em que esperam ou até exigem de Deus, e nem mesmo estão nEle. Mal entendedores da promessa de que Cristo estará conosco, de que tudo coopera para o bem daqueles que o amam e promessas de prosperidade, alguns têm se iludido, pensando estar a salvo de qualquer tempestade que venha sobre seu meio. Pessoas achando que merecem algo ou estão acima dos outros diante de Deus. Criando uma condição de confiança vazia, baseada em interesses.

Essa frente doutrinária deixa-me pensativa, talvez até covarde. Passei a ter medo de esperar pela manifestação do poder de Deus sem que haja entrega da minha parte, sem que haja adoração e louvor a Deus, sem que haja um relacionamento verdadeiro entre nós. Tenho medo de pensar tanto nos feitos de Deus, que ao acordar eu não lhe ofereça palavras de gratidão, mas que de mim saiam apenas pedidos. E eu me perca na confiança de que o braço poderoso de Deus agirá sobre mim, mas não tenha confiança em seu amor, sua paz, sua graça e sua salvação.

Deus não quer de nós um coração interesseiro ou um coração incapaz de se entregar a Ele. Não precisamos ser fortes o tempo todo como nos diz essa insegurança que o pecado trouxe, não temos que tentar ser autossuficientes, porque, inclusive, não conseguiremos. A carnalidade é completamente insuficiente e imperfeita, e nossa alma é dependente de Deus, incompleta sem Ele. Precisamos assumir o risco de estarmos expostos e vulneráveis, e entregar-nos a Deus.

Mais do que nossos pais, melhor amigo ou conjunge e até mesmo mais do que nós mesmos, Deus nos conhece. A exposição menos arriscada que temos a fazer é a revelação de quem somos a Deus. Porque talvez nossos pais fiquem decepcionados com algo em nosso interior, quem sabe magoe nossos amigos, mas Deus nos conhece por completo, Ele não se decepciona, nada do que venhamos a fazer o levará a conhecer esse sentimento, e mesmo conhecendo cada canto em nosso ser Ele nos ama, nos abriga e nos acolhe nEle.

O pior que há em qualquer um de nós é completamente insignificante na missão de levar Deus a nos rejeitar. E Ele não falhará conosco. Podemos entregar-nos por completo, nos abrir a Ele, conversar, chorar com Ele e até mesmo ficar em silêncio em sua presença. Ele nunca nos lançará fora.

A confiança perdida no Éden pode ser reconstruída diariamente, entendendo que Deus não vai se escandalizar com o que há em nosso coração, Ele pode entrar, e cuidar de nós, a porta só precisa ser aberta. Precisamos ainda aceitar que somos completamente incapazes no âmbito espiritual e, portanto, completamente dependentes de Deus e sua graça. E entender que Deus nos recompensa, mas de forma alguma está sujeito a nós.

Ariane Machado

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