quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Um nascimento sacrificial

O sacrifício de Jesus pela salvação da humanidade não se inicia na cruz, nem mesmo em sua prisão no Getsêmani, ou na angustiante oração sozinho que travou pouco antes da prisão. O episódio da ultima ceia, certamente carregou em si a dor da despedida, acompanhada da ansiedade pelo que haveria de vir, que Cristo já antevia. Tão pouco começou três anos antes, com o início de seu ministério e seus 40 dias de fome e sede no deserto.

"No princípio era o Verbo, [...] e o Verbo era Deus", se sua vida não iniciou em sua humanidade, o seu conhecer também antecede tal período, ao longo de sua existência Jesus tinha conhecimento do que haveria de suportar em carne por amor à humanidade, mas sem experimentar. Sem um corpo físico ou nossas emoções imperfeitas e conflitantes.

Mas então, ele nasceu. Grande alegria sobre toda a terra, a noite mais aguardada pelos céus e pela terra chegou! A estrela brilhou e indicou o caminho, os magos viajaram para o adorar, os pastores, os anjos, o ancião Simeão, e quem quer que estivesse atento soube, o grande dia chegou! A libertação para Israel chegou! Um novo tempo foi instaurado! Para Herodes era uma ameaça, ora, um novo Rei nasceu! E para Jesus...

Bom, era um novo tempo também para ele. Aquele a quem "pertence o mundo e tudo o que nele existe", que tem todo o poder, agora chorava na tentativa de informar à sua mãe que tinha fome, uma nova sensação que nunca experimentara, uma incapacidade que lhe privava de falar, pegar os objetos com segurança, levantar e andar em suas próprias pernas, que roubava-lhe toda a autonomia, mesmo tendo ainda todo o poder ao alcance de suas mãos

A humanidade é a imagem e semelhança de Deus e fruto do seu amor, mas submeter-se a viver sendo como sua criação é descrito por Paulo como humilhação. Jesus se humilhou, Jesus se limitou, se privou, se submeteu a dores e dificuldades, que sua natureza divina nunca lhe permitira sentir.

A vida de Jesus não foi um conto de fadas até chegar aos históricos, grandiosos e imponentes dias de sua morte e ressurreição. Jesus veio ao mundo colocando-se numa sociedade dominada pelo império romano, que sofria com os abusos de Roma, passando por dificuldade financeiras, e não na capital, mas numa cidade pequena e pobre. Uma cidade com problemas de abastecimento de água, numa época sem metade das comodidades a que temos acesso. Mas ele experimentou das mesmas aflições pelas quais passamos ao longo da vida.

O simples nascimento foi um expressão de amor, mas como a bíblia declara o amor é sofredor, mesmo o perfeito amor é acompanhado de sofrimento. A noite que hoje comemoramos com luzinhas, as mais fartas comidas, as pessoas mais amadas, e regada de presentes, em sua versão original foi desconhecida para a quase todos, num ambiente que não foi preparado para tal, sob a companhia de animais, rejeitado desde já pelo dono da pousada que não recebeu seus pais Maria e José, e já caçado pelo Rei Herodes.

O início do sofrimento de Jesus é marcado pelo inicio de sua vida humana, mas acompanhado da melhor revelação de Deus, a manifestação da graça, da verdade e principalmente do Amor de Deus. Estava se cumprindo seu plano perfeito.

Ariane Machado

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